aplaceforustodream

you better keep it in check or you´ll end up a wreck and you´ll never...wake up

segunda-feira, julho 24, 2006

Disco riscado

As bombas caem.
Uma a uma - gotas de chuva ácida levantando o pó quente do Verão, numa nuvem castanha que se cola aos olhos e à língua.
Ali mesmo à frente naquele quadradinho cinzento escuro de onde emanam lamentos numa língua estranhamente já familiar.
Cada uma, um estrondo mudo.
Indiferente.

Fecho os olhos.
apago a tv.
vinil de Hendrix a girar..
vejo a bomba a cair em Nagasaki, fenomenal.
O napalm na pele derretida dos soldados no Vietname.
Depois vejo as explosões do Golfo à minha frente.
de novo o brilho dos mísseis a cair nos «alvos estratégicos» do Iraque.
Vejo os corpos nus amontoados em valas claustrofóbicas. um apenas de uma menina a fugir do traço das balas no cemitério de Dili.
Oiço o mesmo pranto numa criança líbanesa.
Oiço o barulho pesado dos tanques a rolar,
vejo de novo aquele olhar - aquele brilho sinistro nos olhos dos miúdos que lhes atiram pedras, ou daqueles que assinam mensagens de perversa satisfação de vingança nos mísseis israelitas.
E eles a cair, devagar, como lágrimas do céu empoeirado, espectáculo pirotécnico do Armagedon.
Vejo o outro brilho nos olhos e nas palavras incendiadas dos grandes líderes de gravata ou túnica.
brilho baço, vidrado de profundo negro e cor-de-laranja - poços de ambições de crude e faíscas de explosões de ódio.
Sempre a mesma expressão.
O mesmo nervoso animal.
A abrir e a fehar, sintonizados com o marchar dos compassos criados pela mão viciada de Jimmy.
Emprenhada de cheiro a tabaco e erva- o cheiro das vozes dos sonhadores que também viram e ouviram os tambores surdos da guerra nas armas pesadas, nas mãos calejadas dos seus avós, pais e quem sabe amigos que não tornaram a ver.
Sinto a sua fome de paz,vinda das suas sepulturas de agulhas gastas e sonhos perdidos.
o seu desespero de vida, de amor, nas suas vozes roucas, na fúria do seu arremesso contra o gás lacrimejante que lhes faz arder os olhos.
Cada vez mais alto.
Cada vez mais forte.
Mais rápido.
os gritos as pedras, a música que sobe de intensidade, acelera, o dedilhar, a percurssão, a força na voz.
sobe
sobe
SOBE!
A agulha salta e o vinil pára.
aí apercebo-me que o vinil estava riscado e que estava há meia hora a ouvir a mesma passagem

(as mesmas faces, a mesma destruição,napalm e energia atómica. imagens e imagens a correr no ecrâ. o mesmo ódio. a mesma revolta nas palavras enfeitadas de calor nos novos músicos e pensadores de woodstock agora sentados à frente do computador a escrever nos seus blogs)


Jimmy diz : War Sweet War - a arena da necessidade humana

quinta-feira, julho 20, 2006

Ódio

O oposto do Amor é a Indiferença.

quarta-feira, julho 19, 2006

Amor

like violence you kill me

(but if you got the inch then i'll treat you like a prince)

sábado, julho 15, 2006

Dias Felizes

Está tanto calor nesta estufa que criámos. vamos sufocar-nos. dõem-me as pernas e os braços de tanto ficar quieta e a cabeça de tanto pensar em mexer-me. crio nós de pressões nos tendões e eles prendem. rodo os pulsos e os calcanhares para fazer estalar as articulações enferrujadas,pesadas; a pele transpirada e peganhenta. que peso..toneladas nos pés de chumbo, mais vinte mil nas fontes e trinta sobre o peito. campos de trigo ceifados. uma tarde de verão. 50 graus à sombra. Quero chuva.preciso de uma descarga refrescante nos meus terminais nervosos.preciso lavar-me de vida.preciso de cheiro de terra molhada.

É o Sahara, não te enganes. Tudo à nossa volta. e aqui os oásis não existem. Estamos separados por léguas de areal. que estupidez. e quando as palavras se acabarem?Não as deixes acabar.depois só tens as coisas e a pistola que nunca terás coragem de usar. campaínha atrás de campaínha.

Estou na peça Dias Felizes.Nossa..que brutalidade expressiva..Mas eu de palavras já estou cheia.palavras.só me fazem pensar queno nada que faço.dormir até ao almoço,derreter,não dormir. Faze-me pensar numa carrinha e uma ilha deserta. Num outro sítio que nem sei se quero.oh..Em suma, faz-me pensar e eu já disse que estou farta disso?Não me quero ver,lembrar que não sou todas as pessoas que me imagino.todos os destinos que me sonho.As Férias de Verão perfeitas.sempre para o ano..depois lembro-me dos olhos baços vestidos esbotados das minhas bonecas de porcelana e da miau em cima da cama e das fotos nas molduras coloridas e alegres.[ah..mas que mometnos perfeitos tive,hum?porque é que não me parecem meus?] todos cobertos de pó sobre a mesinha de cabeceira também enterrada numa neve de sabor a antigo e bolorento. E das outras bonecas enfiadas num saco preto. e de todos os outros sonhos bonitos de organização estratégica contra um ataque dos lrp e conspirações sobr eo fim do mundo e a invasão extraterrestre espalhados em todos os cadáveres de pelúcia espalhados pela cama- cada um uma pessoa que passou, mas que fica no eu imutável. Toda a treta.

Derreto..este calor come-me a cabeça.

Só consigo pensar em ondas a rebentar e cheiro a espuma

«É preciso mover-se algo neste mundo!»

E já são3 da tarde...