Disco riscado
As bombas caem.
Uma a uma - gotas de chuva ácida levantando o pó quente do Verão, numa nuvem castanha que se cola aos olhos e à língua.
Ali mesmo à frente naquele quadradinho cinzento escuro de onde emanam lamentos numa língua estranhamente já familiar.
Cada uma, um estrondo mudo.
Indiferente.
Fecho os olhos.
apago a tv.
vinil de Hendrix a girar..
vejo a bomba a cair em Nagasaki, fenomenal.
O napalm na pele derretida dos soldados no Vietname.
Depois vejo as explosões do Golfo à minha frente.
de novo o brilho dos mísseis a cair nos «alvos estratégicos» do Iraque.
Vejo os corpos nus amontoados em valas claustrofóbicas. um apenas de uma menina a fugir do traço das balas no cemitério de Dili.
Oiço o mesmo pranto numa criança líbanesa.
Oiço o barulho pesado dos tanques a rolar,
vejo de novo aquele olhar - aquele brilho sinistro nos olhos dos miúdos que lhes atiram pedras, ou daqueles que assinam mensagens de perversa satisfação de vingança nos mísseis israelitas.
E eles a cair, devagar, como lágrimas do céu empoeirado, espectáculo pirotécnico do Armagedon.
Vejo o outro brilho nos olhos e nas palavras incendiadas dos grandes líderes de gravata ou túnica.
brilho baço, vidrado de profundo negro e cor-de-laranja - poços de ambições de crude e faíscas de explosões de ódio.
Sempre a mesma expressão.
O mesmo nervoso animal.
A abrir e a fehar, sintonizados com o marchar dos compassos criados pela mão viciada de Jimmy.
Emprenhada de cheiro a tabaco e erva- o cheiro das vozes dos sonhadores que também viram e ouviram os tambores surdos da guerra nas armas pesadas, nas mãos calejadas dos seus avós, pais e quem sabe amigos que não tornaram a ver.
Sinto a sua fome de paz,vinda das suas sepulturas de agulhas gastas e sonhos perdidos.
o seu desespero de vida, de amor, nas suas vozes roucas, na fúria do seu arremesso contra o gás lacrimejante que lhes faz arder os olhos.
Cada vez mais alto.
Cada vez mais forte.
Mais rápido.
os gritos as pedras, a música que sobe de intensidade, acelera, o dedilhar, a percurssão, a força na voz.
sobe
sobe
SOBE!
A agulha salta e o vinil pára.
aí apercebo-me que o vinil estava riscado e que estava há meia hora a ouvir a mesma passagem
(as mesmas faces, a mesma destruição,napalm e energia atómica. imagens e imagens a correr no ecrâ. o mesmo ódio. a mesma revolta nas palavras enfeitadas de calor nos novos músicos e pensadores de woodstock agora sentados à frente do computador a escrever nos seus blogs)
Jimmy diz : War Sweet War - a arena da necessidade humana
Uma a uma - gotas de chuva ácida levantando o pó quente do Verão, numa nuvem castanha que se cola aos olhos e à língua.
Ali mesmo à frente naquele quadradinho cinzento escuro de onde emanam lamentos numa língua estranhamente já familiar.
Cada uma, um estrondo mudo.
Indiferente.
Fecho os olhos.
apago a tv.
vinil de Hendrix a girar..
vejo a bomba a cair em Nagasaki, fenomenal.
O napalm na pele derretida dos soldados no Vietname.
Depois vejo as explosões do Golfo à minha frente.
de novo o brilho dos mísseis a cair nos «alvos estratégicos» do Iraque.
Vejo os corpos nus amontoados em valas claustrofóbicas. um apenas de uma menina a fugir do traço das balas no cemitério de Dili.
Oiço o mesmo pranto numa criança líbanesa.
Oiço o barulho pesado dos tanques a rolar,
vejo de novo aquele olhar - aquele brilho sinistro nos olhos dos miúdos que lhes atiram pedras, ou daqueles que assinam mensagens de perversa satisfação de vingança nos mísseis israelitas.
E eles a cair, devagar, como lágrimas do céu empoeirado, espectáculo pirotécnico do Armagedon.
Vejo o outro brilho nos olhos e nas palavras incendiadas dos grandes líderes de gravata ou túnica.
brilho baço, vidrado de profundo negro e cor-de-laranja - poços de ambições de crude e faíscas de explosões de ódio.
Sempre a mesma expressão.
O mesmo nervoso animal.
A abrir e a fehar, sintonizados com o marchar dos compassos criados pela mão viciada de Jimmy.
Emprenhada de cheiro a tabaco e erva- o cheiro das vozes dos sonhadores que também viram e ouviram os tambores surdos da guerra nas armas pesadas, nas mãos calejadas dos seus avós, pais e quem sabe amigos que não tornaram a ver.
Sinto a sua fome de paz,vinda das suas sepulturas de agulhas gastas e sonhos perdidos.
o seu desespero de vida, de amor, nas suas vozes roucas, na fúria do seu arremesso contra o gás lacrimejante que lhes faz arder os olhos.
Cada vez mais alto.
Cada vez mais forte.
Mais rápido.
os gritos as pedras, a música que sobe de intensidade, acelera, o dedilhar, a percurssão, a força na voz.
sobe
sobe
SOBE!
A agulha salta e o vinil pára.
aí apercebo-me que o vinil estava riscado e que estava há meia hora a ouvir a mesma passagem
(as mesmas faces, a mesma destruição,napalm e energia atómica. imagens e imagens a correr no ecrâ. o mesmo ódio. a mesma revolta nas palavras enfeitadas de calor nos novos músicos e pensadores de woodstock agora sentados à frente do computador a escrever nos seus blogs)
Jimmy diz : War Sweet War - a arena da necessidade humana